#081.12 Você só quer ser feliz

Na nossa introdução sobre esse projeto, eu citei algo sobre brincar com água e com fogo.

Estamos falando essencialmente sobre os nossos espaços de lazer. Uma casa de respeito precisa disso. “All work and no play makes Jack a dull boy”, diz o ditado gringo, eternizado por Kubrick no terror psicológico de The shining (1980).

Dizem que a diferença entre o menino e o homem é o tamanho dos brinquedos.

Eu estou enfatizando o aspecto lúdico de uma construção. “Feito essa gente que anda por aí brincando com a vida / Cuidado, companheiro / A vida é pra valer / E não se engane não, tem uma só” — sim, Vinícius, Vininha velho, saravá.

Justamente por ser uma só. Precisamos de lazer & entretenimento. “A gente não quer só comida / A gente quer comida, diversão e arte / […] A gente quer a vida como a vida quer”, diriam os Titãs.

Uma construção feita pra pessoas tem que se planejar para esses momentos. Os melhores, talvez. Especialmente quando você está fazendo o movimento do “apertamento” metropolitano para o palácio suburbano.

Você não quer ter razão. Você só quer ser feliz.

A forma do espaço construído condiciona o seu jeito de viver. Aqui nessa casa, tem um espaço bem largo pra essa brincadeira de felicidade.

Do lado de dentro, primeiro, a mesa é de bilhar, convertida em mesa de jantar nas horas vagas.

Daí você tem como um alpendre nas saídas para o quintal. O avanço do pavimento superior com relação ao limite do piso interno inferior, forma um espaço de transição entre interno e externo. Protege a área interna do sol direto e da chuva. Como na tradicional Casa Grande luso-brasileira.

Esse é outro conceito que o arquiteto gosta de trabalhar. Espaços cobertos mas abertos. Abertos em um, dois ou três lados, por exemplo. Cada um tem sua função, sua hora, sua razão de ser.

Aqui a gente tem uma churrasqueira bem na frente da cozinha e da sala de bilhar — quer dizer, jantar. Pronta pras brincadeiras com fogo, o perfume sublime da gordura subindo aos céus. As refeições ancestrais ao redor de uma távola redonda com mais cobiçados frutos da caça moderna.

Do outro lado, na frente da sala de estar, a piscina. Lagartear no sol e se jogar na água. Refresco pra crianças de todas as idades: de zero a cem! E um espaço de estar embaixo da projeção do andar de cima. O tal espaço de transição. Pra você curtir o ambiente da piscina sem tomar sol. Vale também.

Todos esses espaços são pensados pra serem sempre circundados por jardins densos e escultóricos. Minha formação prática em arquitetura paisagística obriga meu desenho arquitetônico a isso. A esse tipo de pensamento. Tem horas que eu não sei se estou projetando a casa ou o jardim.