Enfim. No final das contas, estamos falando sobre pé-direito.
Sempre quis saber de onde veio essa expressão.
Parece que foram os franceses. Deram apelido de “pé” pras colunas de uma construção. Elas são instaladas na perpendicular entre o chão e o teto. Em ângulo reto, direito. Por consequência, o comprimento da coluna acaba sendo equivalente à altura entre o chão e o teto: “pé-direito”.
Não sei se eu gostei dessa explicação. O mistério às vezes era mais atrativo. Mais confortável é você saber que vai ter boa sorte se entrar em casa com o pé direito — agora sem o hífen.
Essa também tem explicação, segundo o Google, vinda desde a Grécia clássica. Em respeito aos deuses, você tem que calçar primeiro a sandália no pé direito.
Ainda, na visão dos romanos, o lado dexter (direito, literalmente) era auspicioso, e o sinister (esquerdo) associado ao infortúnio. “Destro” acabou se tornando sinônimo de habilidoso. E “sinistro” de sombrio.
As tradições de rituais hindus de mais de 2.000 anos também orientam a noiva a entrar em casa com o pé direito primeiro.
E por aí vai: “I ain’t superstitious / But a black cat crossed my trail” (Willie Dixon).
Fato é, que a altura de um ambiente importa muito. Comunica. Conforta. Comprime.
A escola clássica da arquitetura trabalhava com recomendações matemáticas para definir as proporções adequadas entre largura, profundidade e altura dos espaços.
A escola moderna subverteu essa ordem. Passou a trabalhar com esse recurso da diferenciação de altura dos espaços de maneira mais livre. Mas com certeza não menos criteriosa. Intencionalmente menos harmoniosa e estruturalmente mais expressiva.
A diferenciação dos pés-direitos em um percurso vai revelar um tipo de hierarquia dos espaços. Vai comunicar qual espaço é mais público e qual é mais privado. Um quarto de dormir alto demais não é confortável, assim como um salão de festas baixo também não.
Esses sentimentos são instintivos.
Lembra que eu falei que o arquiteto projeta a partir de um sentimento? Bom… Talvez seja justamente o oposto disto!
— Se veio primeiro o ovo ou a galinha, não vem ao caso.

