#081.02 Descobrimentos

O arquiteto concebe a sua casa a partir de um sentimento. Você vai viver ali. Vai ser a sua casa.

Você precisa garantir que o arquiteto entenda de construção. E de arte. E de desenho técnico, geometria, resistência dos materiais e conforto ambiental também. Mas, o mais importante é que ele entenda de você.

Seu projeto começa por aí. Eu tenho um lugar e tenho pessoas. São as variáveis fundamentais da arquitetura.

Nós vamos, juntos, listar os ambientes e equipamentos que você precisa (ou gostaria de) ter no seu projeto. Vamos chamar de programa de necessidades essa lista.

E com isso estamos definindo qual o tipo de edificação nós vamos projetar. Aqui, uma residência unifamiliar de alto padrão em um condomínio de lotes. Um sobrado com 4 dormitórios. Vamos chamar isso de tipologia.

Mas eu preciso conhecer você. Preciso conhecer seus hábitos. As histórias passadas e as que você quer escrever. — O tipo de responsabilidade que não vem nunca descrita no RRT (Registro de Responsabilidade Técnica). E a que verdadeiramente importa.

Qual sentimento eu posso provocar em você com a arquitetura desse ambiente? Quais sentidos são aguçados com os materiais que eu estou usando? Eu sempre me pergunto isso, em cada decisão de projeto.

Vai ver é por isso que arquitetura não pode ser totalmente explicada, se não vivenciada. Você não vai ter a absoluta compreensão de um projeto vendo seu material gráfico ou tour virtual.

A espacialidade e a materialidade de uma construção falam diretamente com o lugar e com a pessoa. Coisa que não cabe nas “telas grandes dos seus lares nem pequenas dos seus celulares” (parafraseando Gustavo “Black Alien”).

Ainda assim, você vai “construir do zero”. Vai colocar seu próprio bloco na construção da sua cidade. Mas meus melhores projetos saem da melhor sinergia promovida entre nós, cliente & arquiteto.

Confiança aqui é a palavra-chave. Não apenas a confiança na relação profissional e interpessoal, mas também a autoconfiança. A segurança que você precisa ter para decidir e para agir.

Quero concluir esse devaneio com trechos de uma entrevista concedida a Vladimir Belogolovsky por Paulo Mendes da Rocha (2028-2021), arquiteto capixaba reconhecido com as maiores honrarias internacionais do nosso meio.

“É impossível ensinar arquitetura, mas você pode educar as pessoas para se tornarem arquitetos. Tudo que é preciso é inteligência. […] Cada projeto é uma emergência. Você tem que ir lá e ver o que precisa ser feito. Você apenas pode ensinar arquitetos a pensar ao empoderá-los com conhecimento e ferramentas. […] Confiança é importante, não apenas conhecimento. Cada problema exige reflexão, e não soluções prontas. Você sabe que não sabe, mas existe uma urgência em fazer alguma coisa. É preciso descobrir o conhecimento – esta é a questão.”

Seguiremos adiante em busca dos nossos descobrimentos.